Nesses dias andei refletindo sobre o modelo ideal de magistrado e peguei algumas "antiguidades" para reler , como Direito e Utopia ( João Batista Herkenhoff ) e a Dimensão da Magistratura ( Luiz Flávio Gomes ) .
Segundo o Prof. Luiz Flávio, pelo menos três modelos de magistratura são delineados : o empírico-primitivo, o técnico-burocrático e o democrático . Os dois primeiros são modelos de características bem marcantes e estão em fase de acabamento. O modelo democrático está sempre em construção .
O modelo primitivo está praticamente em desuso : inexistência de concurso público; nepotismo , escolha acentuadamente política ; juiz asséptico, neutro, nada politizado, não possui independência para dirimir o conflito conforme sua consciência e o direito; subordinação ferrenha, tanto administrativa, quanto jurisdicional ; submissão aos órgãos superiores, inclusive no que se relaciona com a interpretação das leis .
O modelo técnico-burocrático tem na magistratura técnica seu foco e sua estrutura é demasiadamente burocrática e hierarquizada . Neste modelo os juízes já são selecionados por concurso público , mas há muito formalismo e pouca sensibilidade com as desigualdades sociais ; rígido positivismo legalista ( aplicação da lei literal, sem atentar para as peculiaridades do caso concreto ); juiz também asséptico, neutro, legalista , ao mesmo tempo em que é exageradamente " carreirista". Possui independência mais formal que substancial, mais externa que interna ; alto apego à jurisprudência , submissão administrativa aos superiores hierárquicos ; juiz com acentuada tendência silogística ( a lei como premissa maior, o fato como premissa menor e a sentença como conclusão ) e por isso mesmo subserviente aos autoritarismos legais .
O modelo democrático contemporâneo tem a mesma seleção através de concurso público . Neste modelo já não há tanto formalismo como o modelo técnico-burocrático . O juiz é engajado eticamente , conhecedor do direito internacional , particularmente dos direitos humanos . Há nítida preocupação com a tutela dos direitos fundamentais ; há autodeterminação e independência do juiz como base da sua dignidade . Este modelo tem como base jurídica fundamental os primeiros artigos da nossa CF . Como valores fudamentais que devem nortear a interpretação das leis , vale enfatizar a liberdade, a solidariedade ( art. 3º ), a democracia ( art.1º) , a igualdade ( art. 5º) e a dignidade da pessoa humana .
O modelo técnico-burocrático tem nitidamente características consideradas do aspecto masculino do Ser ( yang ) : formalismo , pouca sensibilidade, tecnicismo . Enquanto no modelo democrático há aspectos femininos do Ser (Yin) : liberdade, solidariedade , sensibilidade . O modelo democrático é o contemporâneo, apesar de ainda existir vestígios dos demais modelos, na magistratura contemporânea . Mas existe um modelo emergente que vai além da magistratura democrática . É a magistratura humanizada. E os Juizados Especiais , que são norteados pelos princípios da simplicidade, informalidade , oralidade e razoabilidade , são os verdadeiros precursores desse modelo humanizado de magistratura . Sobre a necessária humanização da justiça o juiz federal Bruno Augusto escreveu um excelente artigo O Paradoxo do Juiz e a Necessária Humanização da Justiça .
Conheço alguns magistratados com esse perfil de juiz humanista , que vai além do juiz democrata . Um deles é o juiz David Diniz Dantas, que inova com decisões baseadas nas condições sociais , não apenas com o que diz o texto da lei . Outro exemplo de magistrado humanista é o juiz Gerivaldo Neiva .
Qual o melhor modelo de magistratura ? A resposta é simples . O melhor modelo é o da magistratura humanizada , menos formal , simplificada, solidária , desburocratizada, independente, ética . E como chegar a esse modelo ideal ? Talvez ainda seja uma utopia esse modelo de magistratura. Mas a utopia não significa algo impossível de se alcançar. Eduardo Galeano disse uma certa vez que a utopia serve para nos fazer caminhar até ela ( clique aqui e veja o vídeo ) .
Portanto , colegas magistrados , caminhemos juntos, solidários, rumo à magistratura humanitária .
Qual o melhor modelo de magistratura ? A resposta é simples . O melhor modelo é o da magistratura humanizada , menos formal , simplificada, solidária , desburocratizada, independente, ética . E como chegar a esse modelo ideal ? Talvez ainda seja uma utopia esse modelo de magistratura. Mas a utopia não significa algo impossível de se alcançar. Eduardo Galeano disse uma certa vez que a utopia serve para nos fazer caminhar até ela ( clique aqui e veja o vídeo ) .
Portanto , colegas magistrados , caminhemos juntos, solidários, rumo à magistratura humanitária .
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